sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

ASFIXIA


Que cuidados a mais haveremos de tomar, se em plena luz do dia, bandidos, marginais, desfilam com armas em punho pelas cidades à fora?! Devagar e progressivamente eles vêm tomando a cidade para si, asfixiando a sociedade com ações descaradas de domínio e poder, se ramificando por todos os cantos da cidade, embaixo de nossas narinas, nos bairros favelizados que crescem demograficamente descontrolados, feito erva daninha e aos poucos nos deixando na mão. A polícia não dá conta, as autoridades não se entendem, falta comando e inteligência, sem falar no infortúnio, atraso de tudo, das corrupções vigentes e da hora, um pandemônio de descuidos e despreparos. Mas é bom que entendamos, nem que superficialmente, a nossa via crucis, que é a mesma da polícia. Evidente que há um esforço conjunto de A ou B para que as coisas não se descontrolem totalmente, e justiça seja feita, são heróis os policias que combatem na linha de frente a maldade que nos cerca, não é realmente fácil, é adrenalina pura, estar na mira de fuzis de demônios que não terão piedade se tiverem a oportunidade de eliminá-los, de fato não é para qualquer um. Não é fácil também vencer uma guerra ou ditar regras numa sociedade hipócrita que se diz democrática, sem falar no despreparo intelectual dos próprios policiais para entender tudo isso, a maioria é sangue quente, como devem ser, são os rambos de plantão que se necessita para uma guerra assim, contudo o problema não é só esse, infelizmente; como dizia, gradativamente vamos perdendo campo, para os bandidos, para o tráfico, para a sociedade paralela que se formou com a pobreza e a falta de assistencialismo sério do Estado, perdendo espaço para as crianças, filhas do ódio, para as mães dessas crianças, para os jovens que abandonaram de vez a escola, para a educação que foi abandonada pelo governo. Estamos perdidos nesta terra de ninguém! O Rio de janeiro está se transformando numa imensa favela.
Esta semana, flagrado pela imprensa, jovens desfilavam à céu aberto, com as caras à mostra, sem medo ou constrangimento algum, armados até os dentes , desfilando com suas armas de grosso calibre por uma avenida movimentada da cidade maravilhosa, apontando à sua revelia para quem quer que fosse ou atravessasse em sua frente, era “o bonde”, que passava, que descia, que tomavam feito forasteiros as ruas da cidade, sem nenhum objetivo claro, apenas desfilavam seu poder na nossa cara e ninguém podia fazer nada. Saiu no jornal, passou na televisão. A polícia foi acionada e até agora ninguém foi preso. Era disto que eu falava, o despreparo nosso ou a “competência” superior deles que está ficando cada vez mais comum e evidente! Senão tomarmos uma enérgica atitude agora para com esses bastardos da sociedade, não sei para onde iremos, foi assim há vinte, trinta anos atrás quando o governo chacoalhou com o ensino, com a educação pública do povo e com a política podre que se instalou em Brasília. Todos os professores, sociólogos e cientistas políticos de plantão apontavam para esse frutos podres que agora colhemos, só que agora, os frutos já foram colhidos, não há mais o que se esperar, não há mais tempo de incubação, a doença já se instalou, estamos doentes de fato e agora o processo é degenerativo. A sociedade virou um câncer. A quimioterapia, que seria a educação erradicada fascistamente da vida dos cidadãos comuns, é remédio que dura, leva tempo para agir, sarar, para salvar, com históricos claros e deprimentes de fracassos. Se este câncer se alastrar, realmente será o fim! O nosso fim!

VAI COMEÇAR A FESTA!

Numa outra parte da cidade, o dia era lindo, a festa estava armada, a casa era enorme, com piscina e mesas decoradas ao redor, não fosse uma festa particular, poderíamos achar que era popular, tamanha a quantidade de gente que chegava. O aniversariante estava feliz decerto, muitos amigos assim no dia de hoje não é fácil ter, também pudera, festa é festa, tudo é permitido, e de graça então, amigos brotam com a porta aberta! Tudo muito lindo, tudo muito regado e perfeito, não fosse pelo consumo de salgadinhos que não eram salgadinhos, de doces que não eram doces, de crianças e mulheres participando de tudo aquilo. A festa era de um bandido, os doces e salgados eram drogas oferecidas num pratinho, como numa festa inocente de criança, bandejas de pó à vontade para qualquer um meter as ventas, cigarrinho de maconha, bolinha de crack, muito álcool, só não foi melhor porque depois da primeira rodada, toda a droga consumida teria de ser paga, ou seja, a festa era americana, quem tem cheira, quem não tem faz o quê?! Se prostituir? Se vender?
O detalhe é que toda festa assim é comentada abertamente na internet, com fotos e comentários típicos, você tem o produto exposto para conferir e ir sabendo que vale à pena. A polícia agradece; já tudo devidamente relatado, nem precisa de provas, eles mesmos, esses PhD em inteligência, já dão todo o serviço. Foi á conta! De repente, convidados indesejados invadiam a festa para fazer a sua festa.

“Todo mundo pro chão!” Ninguém reagiu, mais uma vez mulheres e crianças envolvidas; foi preciso convocar um ônibus para apinhar tanta gente. O bandido aniversariante, com os bolsos cheio de dinheiro e com uma cara de drogado ativo, aparecia na TV com as narinas em brasas. Desse aniversário ele nunca mais vai esquecer! Nem ele nem seus convidados. Quase 200!

ESTADO DE PUTREFAÇÃO - Da cracolândia a Zumbilândia

Mais de cem pessoas na fila, mas não era uma fila normal, qualquer, era cara na parede, pés afastados, mãos para trás. A polícia chegara de supetão, ninguém esperava e um quarteirão inteiro de drogados, traficantes, mulheres e até crianças foram surpreendidos, todos envolvidos com entorpecentes, viciados em cocaína e crack, a droga da hora.

Vendo na televisão, era de espantar, toda a extensão de uma rua encostada num enorme muro que fazia curva na esquina, aquela fila enorme de pessoas rendidas e sendo algemadas, foram, segundo a reportagem, 50 bandidos presos, meio quilo de droga apreendida, mais dezenas de usuários detidos, transportados num micro ônibus para um centro de saúde, a televisão registrava tudo, as imagens eram fortes e desconcertantes, a sociedade se denegrindo à olhos nus, depoimentos de gente que desistira da vida há tempos, um, flagrado por uma reportagem antiga, naquele mesmo local, dizia de peito aberto que era usuário há quinze anos e que por isso não tinha mais família, não contava mais com ninguém porque, segundo ele próprio, estava morto a quinze anos, quando começou a consumir o crack; noutra reportagem, agora no presente, uma criança de doze anos de idade, com o rosto devidamente embaçado, dava o seu relato que não conseguia mais parar o consumo porque simplesmente seu corpo começava a tremer, ter convulsões de necessidades já fisiológica, analisava um especialista depois, - e se você não tiver dinheiro para comprar a droga, perguntou o repórter – Vou roubar, assaltar, me vender – respondeu o garoto calmamente. Deus do céu, onde estamos vivendo, a que ponto chegamos? São questionamentos que a alma nos faz. Mas o mais grave estava por vir. Depois de recolher todo aquele pessoal para um centro reabilitação, todos maltrapilhos, famintos, sem orientação, todos presos e comportados no pátio da secretária de saúde à espera de atendimento, no fim de quase uma hora, o resultado! Portões foram abertos e todo mundo pode voltar para as ruas, como se nada tivesse acontecido, fizeram algazarra, vibraram como num estádio de futebol, todos voltaram para as ruas de onde vieram e estavam, para voltar a consumir suas drogas diárias, pulando e comemorando o fracasso do Estado; indo embora feito zumbis, de volta para a cracolândia/Zumbilâdia, terra de ninguém. Os detentos foram liberados simplesmente porque não havia ninguém, nenhum operário ou funcionário para atender o contingente viciado, a polícia viu-se então obrigada a jogar fora toda a operação. Prato cheio para a imprensa que quis buscar explicações das autoridades e se surpreender mais uma vez. O chefe da secretária de saúde, através de uma nota repudiava a ação da polícia, que não avisara nada a ele para que pudesse se preparar para receber todo aquele pessoal, o que foi repudiado pelo delegado, chefe da operação, que retaliou a crítica, dizendo que no mínimo o Sr. chefe da secretaria estava sendo no mínimo incoerente e insensato, por repudiar uma operação tão bem feita, que conseguiu prender quase cinqüenta traficantes e aprender quase meio quilo de droga!
Numa sociedade onde nem as autoridades se entendem, que esperança podemos ter?! A sociedade está doente de fato e o câncer já se espalhou para as áreas vitais, estamos em estado desesperador, acumulando tristezas e ódios, inevitavelmente expostos, expomos por conseqüência as nossas crianças e conseqüentemente o futuro de todos, que já é este, onde estamos. Ou seja, não existe mais futuro, o futuro já passou, estamos todos passados!

"LAMA NAS RUAS"


Senhoras e senhores é carnaval, vai começar o show... de horror!

A violência inata em cada um é o que há de triste para aturar no outro. O instinto gratuito e destrutivo do ser humano.

Carnaval, 18:00 h. de um domingo lindo de fevereiro de 2010. Passeando descontraidamente com a família, eu, minha mulher e três adolescentes, entre eles a nossa filha, vínhamo-nos de passagem pela rua do Lavradio, esquina com Riachuelo, na Lapa, quando a cena que não quer calar nos alcançou, deixando triste nossos corações. Observamos que na esquina, onde havia um carro da polícia parado, cheio de policiais no ofício do dever, fazia sua ronda normalmente, bares não muito cheios, mas de alegria esfuziante, embora ainda cedo, dia claro, algo nos chamou a atenção. Uma senhora vestida de verde limão, com uns óculos grandes e amarelo, que sugeria ser a sua fantasia, discutia com um dos guardas, um senhor magro, cheio de divisas na manga da farda, o detalhe é que todos, ou quase todos deles, eram cheios desses tracinhos amarelos no braço da farda que indica a tal hierarquia militar. Ela estava nervosa, raivosa com o guarda que tentava despistar o desconforto, ela era incisiva, gritava com ele, ele pedia para ir embora, ela dava dois passos em direção a obediência, mas logo desistia e voltava com dedo em riste, o policial se desvencilhava entres os demais que nada faziam, ele ria até, um riso frouxo, sem propósito (mais tarde, rumores diziam que ela o xingou, outros que ele, o policial, fez gesto obsceno para ela – nunca saberemos) todos da rua já notavam a movimentação. De repente, o guarda farto dos gestos da senhora, a agarrou por trás, dando-lhe uma chave de braço, decretando voz de prisão, ela se debatia, começou a gritar para o povo, “Olha a covardia, - gritava - Eu não fiz nada!”, ele a empurrou com força para que entrasse no carro, ela bateu com a cabeça de modo que suas pernas ficaram para fora da viatura policial, ainda se debatendo, o guarda não quis saber, com todo o descontrole bateu-lhe a porta contra suas pernas, o que causou aflição no público, que imediatamente reagiu com gritos de protestos, ela ainda se desvencilhou e conseguiu sair da viatura, então mais dois deles, todos divisados, deveriam ser sargentos, agarrou a mulher como se fosse um marginal e a chacoalharam para todo os lados tentando à força colocá-la de volta no carro, o povo começou a se agitar, gritos de “solta ela, seus covardes”, etc, rompia a tensão do ar. De onde estávamos, ouvi minha companheira soltar um grito tímido de “não faz isso”, neste exato momento um senhor, com olhos revoltosos, de cabelos lisos e farda cheia de divisas, veio em nossa direção, meu coração se agitou, não iria querer saber, se tocar na minha esposa vai levar, pensei, num misto de medo e revolta, cerrei os punhos, mas um jovem bem à nossa frente que deveria estar gritando como todos, foi o alvo do truculento policial, que sem falar nada lhe olhou nos olhos e do nada lhe deferiu três ou quatro socos, quebrando-lha a tulipa de choop que bebia e estraçalhando com seu coturno o resto dela espatifada no chão, “o que foi que eu fiz?!” - quis saber o jovem - que era mulato e bem vestido, foi a senha para levar outro sopapo, bem ao lado dele outro jovem, branco de óculos se aventurou a fotografar, o policial virou o rosto para ele como um robõ, parecia o exterminador, puxou um revólver, uma 45, correria geral, e com a outra mão deu-lhe dois tapas ferozes, a máquina caiu, e ele correu atrás para pisoteá-la, o jovem tentou pegá-la, foi arrastado por um terceiro policial pela gola da blusa até a viatura, feito um animal. Todos estavam estupefatos, em plena tarde de carnaval, numa rua tranqüila, em um dia manso, uma explosão de descontrole daqueles que deveriam estar ali para nos defender, e que, no entanto, nos agrediam à seu total despreparo e revelia, sem preparo algum para lidar com o público, batendo nas pessoas como se fosse a época da ditadura, nos olhando torto, sem educação, intimidando com seus bufos e bafos de ódio e desrespeito. Por falar em desrespeito, eu pergunto: É essa a polícia que eles querem que respeitemos, que sejamos amigos, que confiemos?! Lamentável, lamentável a sua atuação, o seu alvo deveria ser a paz, a paz! Seus covardes! Covardes! incompetentes! Seria eu, pacato cidadão, capaz de arrancar-lhes o coração, se é que têm, e atirá-los aos cães selvagens! Tentei fixar o número da viatura, do nome do exterminador, mas minhas pernas tremiam, meu sangue fervia, minha mente não funcionava, mas me lembro bem da hora em que tudo cessou, eram 17:58min. de uma tarde de carnaval do dia 24 de fevereiro de 2010. Domingo. Esquina das ruas do Lavradio com Riachuelo, em plena Lapa, coração do Rio!