Senhoras e senhores é carnaval, vai começar o show... de horror!
A violência inata em cada um é o que há de triste para aturar no outro. O instinto gratuito e destrutivo do ser humano.
Carnaval, 18:00 h. de um domingo lindo de fevereiro de 2010. Passeando descontraidamente com a família, eu, minha mulher e três adolescentes, entre eles a nossa filha, vínhamo-nos de passagem pela rua do Lavradio, esquina com Riachuelo, na Lapa, quando a cena que não quer calar nos alcançou, deixando triste nossos corações. Observamos que na esquina, onde havia um carro da polícia parado, cheio de policiais no ofício do dever, fazia sua ronda normalmente, bares não muito cheios, mas de alegria esfuziante, embora ainda cedo, dia claro, algo nos chamou a atenção. Uma senhora vestida de verde limão, com uns óculos grandes e amarelo, que sugeria ser a sua fantasia, discutia com um dos guardas, um senhor magro, cheio de divisas na manga da farda, o detalhe é que todos, ou quase todos deles, eram cheios desses tracinhos amarelos no braço da farda que indica a tal hierarquia militar. Ela estava nervosa, raivosa com o guarda que tentava despistar o desconforto, ela era incisiva, gritava com ele, ele pedia para ir embora, ela dava dois passos em direção a obediência, mas logo desistia e voltava com dedo em riste, o policial se desvencilhava entres os demais que nada faziam, ele ria até, um riso frouxo, sem propósito (mais tarde, rumores diziam que ela o xingou, outros que ele, o policial, fez gesto obsceno para ela – nunca saberemos) todos da rua já notavam a movimentação. De repente, o guarda farto dos gestos da senhora, a agarrou por trás, dando-lhe uma chave de braço, decretando voz de prisão, ela se debatia, começou a gritar para o povo, “Olha a covardia, - gritava - Eu não fiz nada!”, ele a empurrou com força para que entrasse no carro, ela bateu com a cabeça de modo que suas pernas ficaram para fora da viatura policial, ainda se debatendo, o guarda não quis saber, com todo o descontrole bateu-lhe a porta contra suas pernas, o que causou aflição no público, que imediatamente reagiu com gritos de protestos, ela ainda se desvencilhou e conseguiu sair da viatura, então mais dois deles, todos divisados, deveriam ser sargentos, agarrou a mulher como se fosse um marginal e a chacoalharam para todo os lados tentando à força colocá-la de volta no carro, o povo começou a se agitar, gritos de “solta ela, seus covardes”, etc, rompia a tensão do ar. De onde estávamos, ouvi minha companheira soltar um grito tímido de “não faz isso”, neste exato momento um senhor, com olhos revoltosos, de cabelos lisos e farda cheia de divisas, veio em nossa direção, meu coração se agitou, não iria querer saber, se tocar na minha esposa vai levar, pensei, num misto de medo e revolta, cerrei os punhos, mas um jovem bem à nossa frente que deveria estar gritando como todos, foi o alvo do truculento policial, que sem falar nada lhe olhou nos olhos e do nada lhe deferiu três ou quatro socos, quebrando-lha a tulipa de choop que bebia e estraçalhando com seu coturno o resto dela espatifada no chão, “o que foi que eu fiz?!” - quis saber o jovem - que era mulato e bem vestido, foi a senha para levar outro sopapo, bem ao lado dele outro jovem, branco de óculos se aventurou a fotografar, o policial virou o rosto para ele como um robõ, parecia o exterminador, puxou um revólver, uma 45, correria geral, e com a outra mão deu-lhe dois tapas ferozes, a máquina caiu, e ele correu atrás para pisoteá-la, o jovem tentou pegá-la, foi arrastado por um terceiro policial pela gola da blusa até a viatura, feito um animal. Todos estavam estupefatos, em plena tarde de carnaval, numa rua tranqüila, em um dia manso, uma explosão de descontrole daqueles que deveriam estar ali para nos defender, e que, no entanto, nos agrediam à seu total despreparo e revelia, sem preparo algum para lidar com o público, batendo nas pessoas como se fosse a época da ditadura, nos olhando torto, sem educação, intimidando com seus bufos e bafos de ódio e desrespeito. Por falar em desrespeito, eu pergunto: É essa a polícia que eles querem que respeitemos, que sejamos amigos, que confiemos?! Lamentável, lamentável a sua atuação, o seu alvo deveria ser a paz, a paz! Seus covardes! Covardes! incompetentes! Seria eu, pacato cidadão, capaz de arrancar-lhes o coração, se é que têm, e atirá-los aos cães selvagens! Tentei fixar o número da viatura, do nome do exterminador, mas minhas pernas tremiam, meu sangue fervia, minha mente não funcionava, mas me lembro bem da hora em que tudo cessou, eram 17:58min. de uma tarde de carnaval do dia 24 de fevereiro de 2010. Domingo. Esquina das ruas do Lavradio com Riachuelo, em plena Lapa, coração do Rio!
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