quinta-feira, 4 de março de 2010

TIC-TAC, BUM!


03/03/2010

24 horas depois, à prisão de mais um bandido, mais um ônibus é alvejado, queimado, ateado fogo, por seus comparsas, usando coquetéis molotovs, em retaliação à ação da polícia. Uma cena já quase corriqueira quando isto acontece, da polícia invadir as favelas e retaliar o crime armado e o tráfico de drogas, etc, se não fosse pelo dado novo e alarmante de, diferentemente de outras vezes, os marginais não se importarem com os cidadãos comuns que usavam o coletivo! Desta vez, usaram uma jovem - notícias revelam que ela tinha ligação direta com o prisioneiro, tanto ela, quanto os outros dois ou três, envolvidos na ação - então não usaram, mas contaram, com a jovem, menor de idade e grávida para fazer sinal e parar o ônibus, enquanto seus comparsas faziam o resto. Sem nenhum pudor, diferentemente de outras vezes, quando eles ainda tinham algum lampejo de consciência e mandavam os passageiros descerem, antes de barbarizar ateando o alvo, desta vez fulminaram a todos, com o arremesso de um coquetel molotov e gasolina, incendiando o ônibus, sem querer saber ou se importar a quem atacavam, se eram pessoas de bem ou não, que não tinham nada a ver com seus infortúnios, que seguiam para o trabalho, para a faculdade, para seus destinos de todo os dias. Resultado: Um ônibus com 20 passageiros, 13 feridos, cinco gravemente, com mais de 30 por cento do corpo queimado e ninguém preso. Tudo em represália à prisão de um parente marginal, que foi pego com 40 papelotes de cocaína, traficando pela área.
Terrorismo, guerra civil, covardia, fomos agora atingidos por algo maior que a própria violência; estamos chegando a um ponto que de tanto conviver com atrocidades acabamos nos tornando parte delas, há uma teoria de guerra que diz que o soldado de tanto guerrear perde o prumo humanístico, perde a referência humana, o tato e o coração, a percepção e a sensibilidade, passando a ser animalesco, instintivamente cruel, a agir e a matar por inconseqüência, por motivos banais, numa total perdição de valores, que realmente deveriam preocupar às autoridades e a qualquer um com alguma sanidade mental. Atingimos um vértice perigoso na questão social, onde homens e jovens de todas as idades, menores de idade até, se revelam como verdadeiros filhos do ódio e nos servem de referência para entendermos que a ferida social, da qual todos somos vítimas e que com ela sofremos, já está além do que poderíamos suportar.
É gravíssimo quando alguém toma para si, os poderes de resolver como bem entender, uma questão pessoal, de uma perda ou de uma injustiça; é gravíssimo quando um homem toma suas decisões à sua vontade e revelia; é gravíssimo quando tomam o poder para si e fazem justiça pelas próprias mãos, sem nenhum pudor ou medo, sem nenhuma ponderação e com toda liberdade indevida ao detrimento do outro; é gravíssimo quando queremos estar acima da lei. E esta é a realidade que enfrentamos hoje. Perdemos o prumo, a direção e estamos todos à deriva, agora com mais essa, com o terrorismo batendo à nossa porta, com o pior dos terrorismos, que não tem ideologia alguma, portanto que não dará margem nenhuma para negociação, porque não haverá ponderação, porque não existe consciência.
Talvez estejamos colhendo o que plantamos; o descaso na educação, o abismo do qual sabemos e não nos importamos; as injustiças sociais cada vez mais gritantes; o descuido com a nossa juventude; a política do cada um por si e a banalização da própria violência, talvez tenham sido os ingredientes fundamentais e singulares, temperados por nossos preconceitos e omissões, que fazem hoje de nós, a cereja desse bolo tão indigesto e indesejável, que agora temos na mão, em forma de uma bomba relógio.
Tic-tac, tic-tac, tic-tac...


“È muito triste, gente! É muito triste! È muito triste ser queimado vivo, é muito ruim, dói demais, dói muito, no corpo e na alma”.

- Uma das sobreviventes da barbárie -

Nenhum comentário: