Como imaginar que aquela viagem, que é feita todos os dias, na santa paz de Deus, pode por um istmo de desatenção, ser a última da sua vida?! Como poder raciocinar que a maldade das pessoas está muito além do que podemos imaginar?! Como deduzir que em plena luz do dia, a maldade se fará presente com a toda a força de sua escuridão? Como um simples bom dia, boa noite, um sujeito pode ceifar a vida de outrem, numa incoerência mórbida dos que não têm noção do que seja respeitar a vida, que também é dele, e depois continuar com ela como se nada tivesse acontecido? Como se não tivesse sido ele, o sujeito mau, o agente da maldade perversa e covarde, de quem atira à queima roupa por um motivo banal, estúpido, inaceitável, conseguir seguir com o rumo de sua vida, com o seu trabalho, como se tivesse tido apenas uma discussão casual com um estranho?! São coisas que acontecem hoje em dia que nos deixa perplexo na alma e no espírito, que vai muito além do crime, que perpassa o nível de compreensão de uma sociedade assustada e acuada, refém do seu próprio medo, muito que embora não consiga passar, ir além, por enquanto não, por algum milagre ou acaso qualquer, do descaso dos envolvidos; ainda nos deixam assustados e isso é bom, não nos deixa dispersos, inertes ou evasivos (ainda), ainda e por enquanto nos deixam tristes, como se não houvesse para onde ir, ainda nos abala e nos atinge na alma; mas como tudo anda, podemos já não está tão longe do dia em que andaremos sobre cadáveres expostos na rua e os chutaremos como lixo comum, para uma vala comum, para simplesmente podermos continuar com o nosso caminho, já mais sem nenhuma sensibilidade, pois... é difícil até de escrever, dizer, pensar, certas atrocidades.
Ia para o trabalho, como todos os dias fazia, num coletivo que levava outras pessoas com destinos semelhantes; quando um dos passageiros, tão comum quanto ele, pediu-lhe para fechar a janela que o incomodava; Diante de uma resposta negativa, logo a discussão veio à tona, apenas um desentendimento, não fosse a bruta atitude do outro que, sentindo-se afrontado com a recusa do pedido, sem nem um pudor, sacou de uma arma e disparou contra um senhor, trabalhador, pai de família e foi-se embora fugido, deixando o homem ferido na altura do peito e todos os outros passageiros atônitos com tão inconcebível acontecimento. Mais tarde, com a apuração dos fatos, soube-se que o indivíduo seguiu normalmente para o trabalho, como se nada tivesse acontecido. Eis a banalização da violência, da vida, da sociedade, falida e agonizada de que tanto ouvimos falar. O homem morto era um cozinheiro, com mulher, filhos, com uma vida, aliás, sem vida agora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário