quarta-feira, 14 de abril de 2010

REVITALIZAÇÃO

Existe uma lenda de que o bairro do Caju nunca evolui. Cospem e conotam ás más linguas à nossa pouca sorte, o fato de termos como cartão de visita, situado bem na nossa entrada, o maior cemitério da América Latina. - "Ah, traz mau agouro", já ouvi dizer, "são forças malígnas", outros já mencionaram, mas o fato é que, de uma forma ou outra, nunca fomos acalentados por nada; nossas ruas, nossa pavimentação, nossas praças, escolas, comunidades, mais parecem lugares de um interior caquético, onde o progresso jamais chega, e o mais curioso é que temos um porto dentro de nós, por onde passa, todos os dias, uma grande parte da importação do Estado, restando para nós apenas a fumaça, o barulho e o asfalto quebrado, que quando chove acaba de fazer o serviço e inundar tudo - estamos ao léo -, deixando de herança para nossas pacadas vidas e nossas crianças, um inferno ainda maior, com a ajuda salutar de suas carretas, uma mais velha que a outra, poluidoras do ambiente, que por si só já não é dos melhores, sem falar do caos no trânsito, engarrafados diariamente por elas, esses dinossauros rex do nosso dia-a-dia, que nos assola, sem nenhuma cerimônia. Já houve casos, e não poucos, de ambulãncia (há um asilo, ali), de vans que precisam levar as crianças ao colégio, da própria polícia, simplesmente não conseguirem sair dali, engasgado no nó do tráfego que elas provocam. Sem mencionar, a sujeira das ruas, os ralos e esgotos entupidos, etc...

Antes existia a pesca, nossa maior atividade financeira e de subsistência, e o mar que nos cercava, nos dava o alimento e a profissão, que em todo mês de Junho era celebrada numa procissão explendorosa numa festa sem igual, que hoje, infelizmente, não existe mais. Hoje atraca em nós e no nosso litoral, navios diversos vindo de além-mar, trazendo consigo a outra parte da herança que nos é cabida, em forma de óleo e lama, que nos afixia por ar, terra e mar e ninguém faz nada! Envelhecemos sob o sol e sob a chuva pestilenta da ganância de nossos algozes políticos e empresários que usufruem aleatóriamente do nosso bairro e de nosso futuro.
Agora com o grande advento (de fato é um progresso) e benefício da revitalização da "nossa" zona portuária, comunidades adjacentes, são premiadas com o tal progresso mencionado, celebram a majestosa novidade, enquanto o Caju permanece, literalmente a ver navios! Celeiro de tudo, de carga e desgraça, somos excluídos solenemente, como se não existe, de um projeto dessa magnitude, que mais uma vez nos oculta; será que será por conta de nossa escondida geografia, mesmo que importante, mas de pouca visibilidade para as vias urbanas?! Se não interfere no visual, no rito da passagem dos automóveis, no cartão postal da cidade, então não interessa!? Gente, existe gente ali! Como podem simplesmente subtrair a parte que mais contribui em benece de outros e ninguém se dar conta?! Será mesmo que o Cemitério - onde todos, sem excesão um dia aportará - seja de fato maldito?! E que por conta dele, somos permanentementes esquecidos, indesejáveis, preteridos? Mais uma vez eu digo, gente, sem nenhuma conotação divina, há vida depois dele! É fixado ali, por exemplo, um museu que outrora servira de casa de banho para D.João VI, que escolheu o nosso mar para se banhar, por solicitação de seu médico. Devo dizer portanto, que o bairro do Caju é um grande bairro, que podia ser melhor aproveitado se respeitado como se deve; contribuidor direto que é do progresso federal, da cidade e do país, cheio de comércio e industria(naval) e trabalhadores que entram, que chegam e que saem, todos os dias, produzindo o sustento nacional, ou pelo menos parte dele, onde existe escolas, posto policial, a aeronáutica, o exército, bares, supermecados, vilas, comunidades em uma infinidade camada de ecossistemas humanos comprimidos em suas existências, mas cumpridores de seus deveres cívicos e de seus direitos, pagadores de impostos como qualquer um, o Caju merecia uma atenção melhor. Pode ser que o nosso Cemitério seja o 'culpado' de tudo isto, por essa fama desastrosa e equivocada, da qual somos vítimas, mas com certeza não é o único... pelo menos não são os nossos mortos que nos fazem tão mal! Os VIVOS nos ignoram bem mais e melhor!

Um comentário:

Unknown disse...

o titulo desse texto devia ser "O Maldito do Caju". Muito bom literariamente falando, mas como voz de um lugar que vive angustiado pelo esquecimento publico.